UM CHOQUE DE CULTURAS AO SOM DOS TAM-TAMS

Por Hermano Vianna e Jean-Yves de Neufville (Bizz - 04/1987)

Em meio à evolução tecnológica mundial, inúmeras bandas africanas estão segurando firme o cipó que as leva do mato ao computador, sem escalas. Hermano Viana e Jean-Yves de Neufville entraram nessa selva, sobreviveram e contam tudo.

Coitadinho do rock inglês! A imprensa brasileira já decretou: chegou a hora da "onda black". Do dia para a noite (ou vice-versa), todo mundo passou a "adorar" hip hop, merengue e companhia. A mudança foi radical, saudada até com gritos de independência. Os darks perderam repentinamente seu mistério e seu charme. Não são mais novidade, nem notícia. Agora, faz mais sucesso um belo bronzeado, um rebolado sensual, qualquer música "caliente". As roupas pretas e os discos do Joy Division devem ser aposentados. Sem arrependimentos.

Mais um modismo? É claro que sim. As modas são absolutamente necessárias. Elas dão novo colorido ao espírito do tempo, afugentando o tédio e a poeira dos velhos uniformes. Mas tudo é superficial, sem maiores compromissos. Dá, passa e é bom enquanto dura. Só os tolos podem querer mais: são eles que levam o modismo a sério e acabam não percebendo que embarcaram numa canoa furada. Um final melancólico. Que o digam os hippies velhos.

A quantidade de "eventos culturais", publicações e programas de rádio que estão se dando bem em cima da "música negra" é espantosa. O oportunismo reina em todas as frentes. As gravadoras também entraram na dança e prometem pacotes e pacotes de discos afro-caribenhos (a mesma coisa que fizeram com a sombria "vanguarda inglesa"). Festa à vista! Nada contra. O Brasil começa finalmente a estreitar suas relações musicais com a África elétrica. Tem som para todos os gostos. O continente negro é generoso em matéria de novos ritmos e novas danças. E os novos músicos africanos (e caribenhos) parecem ter sido atacados pela mais criativa das epidemias antropofágicas: todas as fusões, todo o arsenal pop, todos os instrumentos eletrônicos estão sendo testados na procura do ritmo perfeito. Pelo que á está dando pra escutar, eles não estão longe de atingir esse objetivo. Mas um tato é certo: a melhor música ainda vem por aí. Por isso é bom se preparar.

As primeiras notícias sobre o novo pop africano chegaram por aqui no final dos anos 70. Gilberto Gil foi tocar na Nigéria em 77 e voltou para o Brasil falando maravilhas do afro-heat, da juju music e do highlife. Júlio Barroso, também em 77, escreveu um longo artigo para o Jornal de Música dando uma geral na moderna música africana, do Senegal a Madagascar. No rádio, o programa mais eclético que os cariocas já ouviram, não por acaso chamado de Geléia Geral e apresentado por Ana Maria Bahiana), mostrava em primeira mão discos de FeIa Kuti e amigos. Não estou falando essas coisas para demonstrar erudição pop. E só para lembrar que o Brasil já tinha as informações básicas sobre o pop africano muito antes que os jornais ingleses e norte-americanos começassem a divulgar esse tipo de música como a "next big thing". Isto é, muito antes da moda.

A "moda" teve sua pré-história em 81, quando a lsland, a gravadora que divulgou o reggae internacionalmente, lançou na Inglaterra e nos EUA o disco Sound dŽAfrique, uma coletânea de bandas originárias de países de colonização francesa, como o Zaire e o Senegal. Era um teste de mercado, Se desse certo, vários artistas africanos iam ter a chance de tentar a sorte no primeiro mundo. A IsIand procurava um sucessor para Bob Marley, um músico ou estilo musical que pudesse garantir os lucros que o reggae tinha dado na década passada. A coletânea Sound dŽAfrique só fez sucesso entre os iniciados. Mas os elogios da crítica internacional foram suficientes para novas contratações. Tudo feito com a maior lentidão possível. Tanto que King Sunny Adé só foi lançar seu primeiro disco com a lsland no final de 82.

O "rei" Sunny Adé não precisava da carreira norte-americana e européia para sobreviver. Seu sucesso no primeiro mundo seria apenas uma extensão da carreira milionária que já estava bem fundamentada em quase todo o continente africano. A África não é um mercado qualquer, só a juju music, o estilo a que Adé está afiliado, vende anualmente cerca de 12 milhões de discos, sem contar as gravações piratas. Esses números não devem causar surpresas. O pop africano não é uma música primitiva, mas sim uma poderosa indústria que já tem décadas de existência. Seu mercado não depende de nenhuma ajuda externa para continuar produzindo os discos de ouro.

Apesar da auto-suficiência, os músicos africanos sempre estiveram dispostos a conquistar ouvintes em outros continentes. Alguns deles quase conseguiram atingir o estrelato. A sul-africana Miriam Makeba fez o mundo inteiro) dançar o "Pata Pata" na década de 60. Manu Dibango compôs "SouI Makossa", uma das melhores músicas dos anos 70. As outras centenas de músicos nunca conseguiram seduzir os ouvidos dos donos das multinacionais de discos. Mesmo assim, permaneceram em estado de ebulição. Toda a informação pop (soul, funk, disco, reggae) foi rapidamente digerida e as novas tecnologias de gravação estão se implantando por toda a África. E, cada vez mais, os músicos africanos estão tendo acesso aos melhores estúdios internacionais (via gravadoras independentes) para darem continuidade às suas experiências polirrítmicas. Vale a pena ficar atento aos resultados.

Pra começar: falar em música africana é sempre uma simplificação. O que existe são musicas africanas, dos mais variados estilos e procedências, que muitas vezes não têm nada a ver urnas com as outras. Os primeiros indícios de uma África pop apareceram nas décadas de 40/50, quando o continente negro foi bombardeado pelo mambo, pela rumba e pelo calipso, obrigando os músicos locais a imitarem o estilo de seus ídolos caribenhos (é uma besteira, hoje em dia, tentar encontrar a música africana pura, isso nunca existiu). O calipso, em Gana, acabou produzindo um outro estilo, o highlife, que imediatamente virou febre em vários outros países africanos. O ganense E.T. Mensha, o rei do highlife no começo dos anos 60, teve que passar o cetro para o nigeriano Victor Uwaifo, que por sua vez teve que render homenagens ao Prince Nico Mbarga, de Camarões, autor do LP Sweet Mother (lançado em 76), talvez o disco "made in Africa" mais vendido até hoje. Mas podemos encontrar a influência do highlife até na música contemporânea do Zimbabwe.

O nigeriano FeIa Kuti foi, no início de sua carreira, um comportado líder de uma banda de highlife. Mas, depois dos anos que morou nos EUA (onde teve contato com os Panteras Negras), ele acabou inventando seu próprio estilo musical, muito mais pesado e "militante", o afro-beat. O público nigeriano já conhecia o soul através da música de Geraldo Pino, uma encarnação africana de James Brown, com mais percussão. Fela aprendeu a lição de Pino (que cantava músicas como "I'm a Black Man, I Was Born to Be Free") e radicalizou sua proposta política, se dizendo várias vezes candidato à presidência da Nigéria ou simplesmente se intitulando Black President.

Fela dá tudo por uma polêmica. Ao mesmo tempo em que construiu sua imagem de líder político com tendências esquerdizantes, ele defende ardorosamente a poligamia já teve 27 esposas). Engraçado? Exótico? E preciso esquecer essas histórias para poder julgar "objetivamente" a música de Fela. Impossível resistir: a tempestade de ritmos iorubás coexiste com a metaleira funk e guitarras, à la James Brown. As músicas duram todo o lado de um LP (às vezes os dois lados). Esqueça a objetividade: a música de Fela é pura hipnose.

Também nigeriana, também iorubá, a juju music tem pouca coisa a ver com o afro-beat. Os instrumentos que comandam as bandas de juju são os talk drums. Em cima de suas variações rítmicas, as guitarras (incluindo uma guitarra havaiana), os sintetizadores e as vozes (nunca os metais) vão construindo sutilíssimas teias harmônicas e melódicas. No afro-beat o que importa é o peso e o ataque dos arranjos instrumentais; na juju, o que importa é a leveza e a elegância.

A moderna juju music se aproxima cada vez mais do funk, utilizando baterias eletrônicas, sintetizadores e outros apetrechos hip hop (os grandes inovadores: King Sunny Adé e Ebenezer Obey). Mas existe um estilo musical derivado da juju, conhecido como fuji, que anda incendiando as noites de Lagos. Fuji é juju resumido ao básico: só percussão e voz (geralmente muçulmanas). Dizem que a dança fuji é muito parecida com o fricote baiano.

Deixando a Nigéria, e seguindo para o norte da Africa, vamos encontrar os estilos musicais derivados das músicas dos griots, tradicionais "cantadores" da etnia mandinga. Os griots recebiam hereditariamente seus ensinamentos musicais, inclusive o manejo da kora, uma harpa de 21 cordas. Hoje, músicos do Mali e do Senegal utilizam essas informações tradicionais mixadas com os vários estilos do pop internacional. A banda senegalesa Touré Kunda, que está de excursão marcada para o Brasil, mistura highlife, reggae e funk, mas nunca se esquece de convidar Mory Kanté, o maior exemplo de um griot pós-moderno, para tocar kora em seus discos. Depois de passar anos gravando para a CelIuloid (tendo sido produzido até por Bill Laswell), o Touré Kunda acaba de assinar com a RCA francesa, por onde lançou seu último álbum, Toubab Bi.

Também influenciado pela tradição dos griots, o senegalês Youssou N'Dour é a estreia ascendente do pop africano no cenário internacional. Como Fela. Youssou também inventou seu próprio estilo musical, o mbalax. Característica principal: a utilização dos tambores tama (não confundir com a marca de bateria), que têm uma sonoridade reconhecível à distância. Youssou toca com a banda Super-Etoile de Dacar, com quem já lançou pelo menos dois discos imprescindíveis. O primeiro se chama Immigrés e foi lançado pela Celluloid. O segundo é o LP Nelson Mandela, eleito como o melhor disco africano de 86 pelos críticos do NME. Mais uma informação importante: Youssou N'Dour está atualmente abrindo a excursão norte-americana de Peter Gabriel. O garoto tem futuro.

Continuando nosso safári musical, vamos agora para o coração da Africa, mais precisamente para Kinshasa, a capital do Zaire e a capital do soukous. Kin, como a cidade é conhecida pelos íntimos, tem um bairro chamado Matonge, o ponto nevrálgico da vida noturna da Africa central. O Matonge é um território privilegiado para os que querem fazer a "ambiance", isto é, errar de boate em boate, dançando aqui e ali, escutando a melhor musica, se divertindo como nunca. No Matonge reina O soukous (o estilo musical predominante em países como Zaire. Congo. Gabão. Quênia), uma palavra que, como o zouk das Antilhas Francesas, designa, Além da música, uma maneira de se divertir, de festejar, de aproveitar a vida.

A música soukous é também conhecida como rumba zairense. Sua história é antiga. Talvez tenha nascido há 25 anos, quando Tabu Ley Rochereau, o senhor do soukous, lançou seu primeiro grande sucesso (Tabu Ley, até hoje, já cravou mais de 150 discos!). A principal característica do soukous é a utilização de várias guitarras (até cinco, as vezes), com afinações diferentes e Solos supermelódicos. Nada pode ser melhor para dançar. Escute qualquer disco de Franco. Papa Wemba ou Pablo Porthos. Ou, então, pegue um avião para Kinshasa e se acabe num show de Emeneya Bubiala, o novo ídolo do Matonge.

Vamos mais para o sul? O jive sul-africano, ou mbaqanga, é provavelmente o estilo do pop africano mais conhecido pelo público "ocidental", pois foi devidamente "apropriado" por Malcolm McLaren - no LP Duck Rock - e por Paul Simon - no LP Graceland. É a música mais "convencional" das descritas até agora: geralmente, baixo, guitarra e bateria, que produzem um saltitante ritmo 8/8. A influência básica é mesmo o rhythm and blues, readaptado pelos zulus para atender às exigências - devidamente urbanizadas - de seus complexos arranjos vocais. Quem fez o melhor uso do jive? Simon ou McLaren? Forme sua própria opinião escutando a coletânea Time Indestructible Beat of Soweto, lançada pelo selo Earthworks. Ou mude complemente de praia e vá "descansar" na Etiópia, escutando o "jazz" árabe-indonésio de Mahmoud Ahmed. Ou, então, entre com o pé direito no mundo árabe, através do Oran, Argélia, com a cabeça cheia do Rui de Cheb Khaled ou Cheb Mami. Ainda estamos na Africa. E a oferta ainda é variada.

Pena que sejam poucas as fontes de informação sobre todas essas músicas. São poucos os discos acessíveis (mesmo na Europa) são poucos os ouvintes "interessados". Os ritmos da África cruzaram o Atlântico, se mesclaram com as melodias européias, deram origem ao rock, ao samba, ao calipso, ao funk, ao reggae. E essas músicas já fizeram o caminho de volta à África, como o zouk à la Kassav' (que é a última sensação) do continente africano, imitado por músicos de todos os países. A próxima "travessia do Atlântico" é iminente. E, dessa vez, nada de navios negreiros. A moda, agora, é música africana? Não há o que temer. Só nos resta aproveitar a onda black, Até a próxima ditadura dark.


O sistema destrutivo da moda

Desde o ano passado, estamos assistindo a uma campanha intensiva dos meios de comunicação empenhados em demonstrar que, de repente, como se tivessem caído do céu, trazidos por ventos alíseos fora de rota, os ritmos africanos estariam revolucionando a música ocidental...

É bom sentar e relaxar. Na fria Europa branca, vá lá. A invasão dos tam-tams negros está trazendo, desde a virada dos anos 80, um sangue novo na velha tradição polifônica que já esgotou faz tempo todas as variantes possíveis de associações de notas numa partitura. Mas... nos Estados Unidos? E no Caribe? E, mais ainda, no Brasil?! Vamos Ter de contar outra vez toda a história dos escravos negros trazidos quatro séculos atrás? Vamos ter de explicar de novo que todas as bases das músicas populares do mundo ocidental que surgiram no decorrer do século XX foram edificadas por mãos negras, do blues ao soul, do funk ao samba, do gospel ao reggae, e que TUDO começou com uma pele puxada sobre uma caixa de ressonância? Se isto for uma moda, então a própria existência da música não passa de uma moda passageira... o que pode ser um ponto de vista. Mas ainda sou daqueles que acham que nem tudo é relativo e que existem assuntos complexos demais para serem carimbados como simples modas. Uma moda, a música africana? Dê uma olhada nos tradicionais desfiles das escolas de samba ou nas cerimônias de candomblé. Se você não se convenceu, escute os primeiros discos de Jorge Ben ou Gilberto Gil, e pergunte a eles se acham que a Africa é uma moda.

Vamos falar a sério. A música africana não esperou por David Byrne, Brian Eno, Stewart Copeland, Peter Gabriel ou Paul Simon para influenciar profundamente a música deste século. O que há de novo, isso sim, é que muitos grupos oriundos do Caribe e vários países africanos estão tendo acesso aos fantásticos progressos tecnológicos oferecidos pelos estúdios ocidentais. Este acesso proporciona experiências fascinantes como a associação do primitivo com o moderno, a eletrificação de uma música tribal e sua sofisticação com os efeitos e os sintetizadores.


Os colonizadores colonizados

A circulação rápida das idéias e de todos os estilos musicais via satélite está aproximando os continentes. No caso da música africana, duas cidades têm um papel fundamental no, suo difusão: Paris e Londres. Essas capitais, de onde partiram outrora tantos exércitos colonizadores, são hoje focos de difusão intensivos para inúmeros grupos africanos. Na origem, duas grandes fontes difusoras: a Radio France Internationale (RFI) e a British Broad-casting Corporation (BBC). A RFI, irradiando a partir de Paris, oferece uma programação variada e equilibrada, dando grande destaque à música africana moderna, o que permite sua propagação por todo aquele continente e incentiva os hits pan-a-fricanos. Essa rádio ainda possui um dos arquivos mais completos e atualizados de música africana. Toda noite, o disc-jóquei GilIes - hoje muito famoso na Africa - apresenta um programa de grande sucesso chamado Canal Tropical. Ainda na capital francesa inúmeros grupos africanos e caribenhos conseguem uma boa infra-estrutura promocional e têm acesso a vários estúdios.

A Inglaterra é um caso um pouco diferente. O maior foco difusor de musica pop do mundo reserva uma parte pequena - porém não desprezível - à música africana moderna. Na década de 70, existia apenas uma loja em Londres, na origem especializada em vender material elétrico. Com uma particularidade: num canto da loja, havia prateleiras carregadas de discos diferentes - em pouco tempo, a Stern's ficou conhecida como o único lugar onde era possível encontrar os mais recentes lançamentos de música africana. Esta combinação, pelo menos original, terminou em 1982, quando os primeiros donos da loja se retiraram. Foram-se lâmpadas, fiações e eletrodomésticos, entrou uma nova equipe para cuidar da maior seleção de discos de música africana que se possa encontrar na Europa. Além disso, a Stern's iniciou sua própria produção. A partir de 1983, foram lançados 14 álbuns sob o selo independente Stern's Africa, estrelados por alguns dos mais conceituadas artistas daquele continente: Ebenezer Obey (Nigéria), Tabu Ley (Zaire), os African Brothers (Gana), MŽBilia Bel (Zaire), Segun Adewale (Nigéria) e bandas radicadas na Inglaterra como Hi-Life International e Somo Somo. Nesse catálogo, uma verdadeira pérola: o reggae hipnótico de Alpha Blondv, da Costa do Marfim. O diretor da Stern's, Robert Urbanus, esteve no Brasil em fevereiro deste ano e desenvolveu contatos junto às gravadoras. "O andamento das negociações é bastante promissor", assegurou Urbanus. Tudo indica que assistiremos aos lançamentos nacionais deste catálogo riquíssimo ainda este ano.


Caribe: a África do outro lado do mar

Quase todo o pop africano atual tem influências diretas dos ritmos caribenhos, principalmente aqueles que, como a rumba e o calipso, foram transformados em modismos internacionais, via gravadoras norte-americanas, entre as décadas de 30 e 50. Mas a música do Caribe não estacionou nesse "momento de glória". Os ritmos de Trindad e Tobago, República Dominicana, Cuba, Porto Rico, Antilhas Francesas e Jamaica não cessam de se modernizar, interferindo agressivamente no cenário pop do resto do mundo.

O reggae foi a primeira surpresa. Nos precários estúdios jamaicanos surgiram técnicas de gravação de discos, incluindo o dub, que hoje são conhecidas e utilizadas por qualquer produtor que se preze. Mas foi o final dos anos 70 que uma maré eletrônica tomou conta das ilhas caribenhas. Nessa época, apareceu a soca, em Trinidad, e o zouk, na Martinica e em Guadalupe.

Soca é a abreviação de soul-calipso. O nome já diz tudo. O calipso, que desde o século passando domina o carnaval de Trinidad, foi submetido a um tratamento soul, acelerando o ritmo, incluindo um baixo funk, ferozes solos de guitarra, sintetizadores e metais. As inovações foram recebidas com euforia pelos dançarinos locais e todos os músicos aderiram. Nomes importantes: Might Sparrow, que grava desde 1955, Arrow, Lord Nelson e David Rudder.

O zouk é uma invenção da banda Kassav', que esteve se apresentando no brasil em fevereiro. Trata-se da modernização da cadence (música das Antilhas Francesas derivada do infernal merengue dominicano, tendo como intermediário o leve compasso, do Haiti), com pitadas de beguine, quadrilha e uma overdose eletro-funk. Crucial para o desenvolvimento do zouk foi o trabalhodo produtor Didier Lozahic, dando um radicaliasmo sonoro aos últimos discos do Kassav', que a banda ainda não consegue reproduzir ao vivo.

No mais, outras surpresas estão sendo aprontadas hoje pelas charangas cubanas e pelas bandas de merengue de São Domingos. Quem pode prever o que está vindo por aí?
------------------
O Soukous encontra suas raízes nas bandas de rumba dos anos quarenta. Associa harmonias suaves, ritmos frenéticos e guitarras melódicas. Tabu Ley, Somo Somo.

A Juju é notável pela ampla utilização dos talking drums (tambores falantes), guitarras maciças (inclusive distorcidas) e vocais dialogados. Ebenezer Obey, Segun Adewale.

A Highlife é uma música dançante que dá muita ênfase aos naipes. African Brothers Band, Hi-Life International

Na origem, os Griots eram os músicos dos reis do antigo império do Mali. Hoje é um estilo que valoriza as percissões e o uso do balafon e do kora nos trabalhos mais ligados à tradição. Toure Kunda, Youssou N'Dour.

Afro Beat: a mais completa e eletrificada das músicas africanas, criada por Fela Kuti. Se baseia em percussões sincopadas, polirrítmicas com inclusão de funk.

Comentários

zeitgeist disse…
E eu pensava que conhecia música da África com Manu Dibango, Cesaria Evora, Miriam Makeba e Salif Keita no meu iPod. Excelente artigo! Cristiano Gobbi

Postagens mais visitadas deste blog

Especial Afrobeat com Letieres

#25jan