Angola e Bahia unidas pela arte

O cantor angolano Dog Murras engata parceria com os baianos Márcio Victor e Carlinhos Brown para popularizar o ritmo africano no Brasil
CHICO CASTRO JR.
ccastrojr@grupoatarde.com.br

Se depender do cantor angolano Dog Murras e do baiano Márcio Victor, do Psirico, o ritmo do kuduro – original de Angola – não sai de moda tão cedo. A dupla prepara para breve o lançamento do álbum Kuduro Brasil, uma jogada decisiva para popularizar de vez a batida d‘além mar em terras brasileiras.

Em outra frente, Murras, Victor e Carlinhos Brown tocam outro projeto, denominado Angobahia.

O rapaz de Luanda, que participou do Carnaval em cima do trio com Victor, define o projeto como uma “iluminação divina.

Temos conversado muito e a gente identifica visões comuns e problemas comuns. Eles (Victor e Brown) têm preocupações com o povo da Bahia e eu, com o povo de Angola“.

Sobre o Kuduro Brasil, Márcio Victor define o projeto como “diferente do Angobahia , que é mais conceitual. O Kuduro Brasil é comércio mesmo, vamos fazer muitos shows pelo Brasil, vamos tirar um tempo pra fazer essa turnê, eu e ele“.

O que não está certo ainda é a data em que essa maratona começa.

“Vai ter um lançamento, mas não temos ainda previsão.

Ele está indo para Angola agora, mas volta em maio“, disse Victor.

De certo é que sai esse ano. “O Kuduro Brasil vai ser lançado ainda esse ano com a Penteventos, que vai tocar esse barco. O Dog vai trazer dançarinos e tudo“, acrescentou.

Na semana passada, a dupla gravou o clipe da música Kuduro de Fogo, que logo vai ser lançado.

“Nós mesmos dirigimos, gravamos na produtora A Ilha. É um clipe com cenas picantes, muita mulher e muito kuduro“, disse.

Segundo Dog Murras, o kuduro surgiu em Angola como “uma cópia mal feita da música dance tecno europeia. A ela foram se juntando guitarras tocadas à moda angolana. Para dar a patente da Angola, misturei o kuduro com o kazukuta, que é o ritmo do carnaval angolano“.

“Hoje o kuduro é sem dúvida a maior manifestação cultural de Angola, terra do diamante, do petróleo e do kuduro“, acredita Dog Murras.

Márcio Victor descreve o Kuduro Brasil como uma fusão: “Tem sons programados, sim, mas misturado com a pegada orgânica da gente, com surdo e timbau“.

Já o projeto Angobahia tem um caráter um tanto mais didático do que o Kuduro Brasil.

“É mais ou menos como uma ong. Queremos abrir uma escola em Angola, além de promover espetáculos aqui (na Bahia) e lá em Angola. Haverá a gravação de um documentário sobre esse nosso encontro“, enumera Dog.

“O Angobahia é um projeto que se pretende histórico. Nossa finalidade é que várias pessoas bebam dessa fonte, pois nele poderão ser pesquisadas várias linhas de ritmo e melodia. A ideia é transformá-lo numa fonte de pesquisa“, afirma o angolano.

Por enquanto, ainda não há previsão sequer do término das gravações. “O problema é conciliar as agendas dos três (Dog, Victor e Brown)“, confessa.

”Quando podemos nos encontrar aqui, gravamos. Temos umas cinco músicas já gravadas.

Como fazemos naturalmente, sem pressa, não temos previsão de nada ainda. Mas temos certeza que é um projeto que vai beneficiar Angola e Brasil”.

”Trata-se de resgatar traços culturais que nossos antepassados trouxeram para cá e ficaram melhor conservados aqui do que lá em Angola, como o batuque, a capoeira e o candomblé, que os colonizadores portugueses proibiam os angolanos de praticar”, conta Dog.

”Por isso queremos criar essa escola em Luanda. Ela seria o ponto de resgate dessas tradições”, conclui.

fonte:
A Tarde
EDIÇÃO DO DIA 10.03.2009
Sotaque Baiano - Página 8

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